EPICURO E O PRAZER, O CONTEMPORÂNEO E A SUPERFICIALIDADE

EPICURO E O PRAZER, O CONTEMPORÂNEO E A SUPERFICIALIDADE

           O que se pode dizer sobre a felicidade?  Ela é momentânea, é um ideal, assim que alcançada não é mais buscada? Quem impôs o significado dela? Que ser humano não busca o que parece tão inatingível e ao mesmo tempo tão próximo?
De acordo com Epicuro (342-271 a.C.), a felicidade está baseada no prazer. Mas isso não resultaria em conflitos extremos, já que cada um buscaria seus interesses sem se preocupar com o outro?
É necessário entender o que Epicuro queria dizer com prazer. Epicuro recusava-se ao obscurantismo e as crendices que sempre dominaram a mente humana. O homem pode ser livre, não deve ser um reflexo das circunstâncias, um ser passivo. Liberdade é o desvio das fatalidades. Na busca pelo prazer (hedoné), o homem procura afastar a dor.
Este prazer de Epicuro, é usado de forma pejorativa nos dias de hoje, aplicando a palavra epicurista ou hedonista, a todos aqueles que buscam o prazer sem se importar com suas conseqüências. Mas Epicuro não estava falando sobre os prazeres superficiais, e sim do prazer que busca um bem último. Não significa necessariamente satisfação dos sentidos. É um prazer que nasce do próprio homem, não vem de fora e nem é dado por um ser superior. É a troca do que é momentâneo, por algo mais duradouro. Evitar o prazer que trará uma dor maior depois do primeiro momento. A alma pode sentir prazer (ataraxia), enquanto o corpo padece dores.
Ter uma vida prazerosa é ter um controle sobre o seu imaginário, ter a capacidade de examinar suas escolhas, ponderá-las e entender a rejeição. Buscar a serenidade, a autenticidade, esquivar-se (clinamen) da dor do corpo e da perturbação da alma. Epicuro veio de encontro há uma sociedade que estava se individualizando por não ter mais voz ativa, já que as pólis declinaram e agora as ordens eram dadas por um príncepe ou governador.
Mas hoje com freqüência a busca pelo prazer não busca o controle do desejo nem pesa seus “efeitos colaterais”. Muitas vezes o homem aceita a imposição dos mecanismos de massa que lhe dizem o que é bom ou não. O homem vive o “aqui, agora”. Não consegue se relacionar sem buscar os seus próprios interesses, não dá valor a amizade se esta não tiver o que lhe oferecer materialmente; a prudência não é o seu forte. Só é bom o que a publicidade lhe disser o que tem valor. Segue-se um tradicionalismo religioso que o homem só pratica por temer a punição de seus atos e não por respeito a sua consciência.

Na política, não é interessante o que beneficia a sociedade, mas o que beneficia o próprio candidato eleito. Os que dizem exercer a política, buscam desenfreadamente o poder, o domínio, o acúmulo de riquezas nem que para isso seja necessário destruir a natureza - se esquecendo que a destruindo, destroe a si mesmo. Por ser um lugar de disputa em qualquer Era, Epicuro aconselhava os ouvientes de sua época a viverem reclusos, longe da vida política, para preservar a paz de espírito deles mesmos.
A tendência de uma humanidade levada por essas forças é estar sempre insatisfeita e à ameaça de qualquer resolução de seus problemas, seguir cegamente as indicações e conselhos de quem detêm o comando deles. Estão correndo loucamente à procura de prazeres ilusórios e passageiros.
Todavia, a toda regra há exceção! Conta-se que os epicureus reuniam-se num jardim, para ouvirem mais sobre o Prazer verdadeiro. Assim como os gregos que sentiam-se impotentes em sua época,  hoje existem pessoas que sentindo-se impotentes diante de seu governo corrupto, procuram comunidades alternativas (o jardim) para não serem tão afetados por este sistema. Há também aqueles que mesmo vivendo neste sistema, procuram praticar o verdadeiro epicurismo, que tem dentro de si a autarquéia (independência), a sabedoria prática (phrónesis) adquirida através de um senso crítico, seguindo um raciocínio legitimamente hedonista – o TETRAFARMAKON:
NÃO SE DEVE TEMER AOS DEUSES, NÃO SE DEVE TEMER A MORTE, É POSSÍVEL SUPORTAR A DOR, É POSSÍVEL ALCANÇAR A FELICIDADE.
O ser humano deve desviar-se do artificialismo, das máscaras, da religiosidade que aprisiona, das imposições e manipulações e concentrar-se no que mesmo a longo prazo fará dele um ser sereno, prudente, que coopera para o bem dos que estão há sua volta e não permitirá que sua vida seja inútil. Como faria o próprio Epicuro, é suficiente se satisfazer com os desejos que são naturais e necessários, limitar-se em prazeres que apesar de naturais não são necessários e fugir dos não naturais e não necessários. A prudência, o domínio próprio, a racionalidade ainda são os melhores aliados para escapar da futilidade e do consumismo que tanto impera sobre a atualidade.

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