BASEADO NO LIVRO "PSICOLOGIA SOCIAL - O HOMEM EM MOVIMENTO"


Linguagem, pensamento e representações sociais



O homem está sempre interferindo na natureza, em sua família, no seu círculo de amizade, na história e como resposta também é modificado pelo fruto de suas interferências. Para Skiner, comportamento verbal é todo aquele que é mediado por outra pessoa, e desta forma se incluem os gestos, sinais ritos e obviamente a linguagem.







A linguagem surge por necessidade da coletividade, comunicação entre os homens para que pudessem garantir a vida em sociedade. Resgata-se a importância dela para compreender o homem em sua totalidade.


Esta linguagem demonstra como cada um vê o mundo, mesmo que esses significados que atribuam as palavras para descrevê-lo não sejam verdadeiros, mas que foram aprendidos enquanto participante da sociedade.


Mas a linguagem não é apenas um instrumento de comunicação, intercâmbio entre os homens, ela é responsável pela incorporação do mundo, através da aprendizagem da vida materna que possibilita o ingresso da criança na história de sua sociedade processo de “hominização” – ser produto e produtor da história de sua sociedade. Esta relação (adulto e criança) segue um modelo ou padrão que cada sociedade veio desenvolvendo e que considera correta.


Tudo que adquire significado, vai se subjetivando no homem, tornando-se pessoal, com motivos definidos para o próprio sujeito. A palavra é uma arma de poder, o indivíduo dá um sentido único a uma palavra e isto pode se tornar uma imposição sobre os outros. Neste processo de significações do que é verdade, envolvem-se emoções, recordações e se o indivíduo em algum momento questionar o que lhe é imposto, pode ser considerado alguém “anormal”, afinal, em cada grupo social encontramos normas que regem as relações entre os indivíduos. Até aquelas que se cristalizam em leis e são passíveis de punição por autoridades institucionalizadas, estas normas são o que basicamente caracterizam os papéis sociais (posições) e que determina as relações na sociedade.


Neste processo de subjetivação, de visão de mundo, surge a representação social. O indivíduo desde pequeno vai testando o que aprendeu, confrontando e escolhendo (objetivando) o que considera mais vantajoso e consequentemente se personalizando. As representações sociais são construídas a partir da interação coletiva, de atos ilocutórios que são as falas que caracterizam a posição que as pessoas ocupam. Esta representação é o sentido pessoal que o homem atribui aos significados elaborados socialmente. Ao longo do tempo os significados mudam e para que ele entenda quem é, se interioriza e se modifica.


É no discurso de cada sujeito que se identifica o que lhe é semiótico, pois sua fala está carregada de sua crença e a escolha de suas palavras está de acordo com sua ideologia.


Por mais que o homem possua sua visão de mundo, na sociedade todos em algum momento precisam cooperar para o bem comum, obedecendo a regras, adquirindo posições, representando e expondo sua ideologia de várias formas, interagindo e se interiorizando e emanando no real o que ele mesmo subjetiva.










Consciência/alienação: a ideologia no nível individual



Como se sabe o indivíduo influencia e é influenciado pela historia e sua sociedade. Ser mais ou menos influente dependerá de como ele age, ou seja, ele pode fazer as coisas acontecerem ou simplesmente ver quem está a sua volta agindo. O sujeito através de suas ações vai modificando e construindo a história. É preciso pensar e ter senso crítico para isso acontecer.


Como então entender a ideologia contida nas atividades superstruturais da sociedade que são as instituições políticas, jurídicas, religiosas, filosóficas, que tanto influenciam a ideologia individual? Como o sujeito pode reconhecer que nem tudo lhe impõeem é o melhor?


A condição básica para o ser humano se comunicar é a linguagem. É ela que o ajudará em todas as suas relações com seus semelhantes e a entender a sua própria individualidade, sua forma de pensar. Esta mesma linguagem vem sempre carregada de significados, representações e revela o que cada grupo procura, qual a sua ideologia.


O sujeito pode detectar as contradições existentes no grupo onde impera determinada ideologia, mas muitas vezes, não existe o senso crítico, e o sujeito vê tudo como natural, aceitando o que lhe é imposto sem questionar, sem entender quem ele realmente é e a sua importância social, o que entende-se como alienação.


O indivíduo consciente de si, compreende que faz parte de uma classe social, que deve estar num grupo que age como tal, lutando pelo que entender ser seu direito, mas também compreende que no que acredita, muda a sua vida. Ele age, planeja, pesa o que fez, lembrando-se sempre de todo o significado da linguagem que aprendeu.


Não se pode negar que também acontece a não-ação, e isto ocorre no pensamento – o que é fundamental para a tomada de decisões, para avaliar se determinada atitude será boa ou não. Isto refletirá o que o sujeito aprendeu na linguagem como certo-errado, verdadeiro-falso, bom-ruim. A linguagem produzida está cheia de representações de mundo, de realidade, de homem, daquele que a produziu. Tudo isso cooperá para trazer a sua memória experiências em que suas atitudes tiveram os resultados esperados e se não tiveram, do mesmo modo continua sendo importante para a conscientização do mesmo, ao contrário de simplesmente aceitar o que o grupo lhe diz impondo que é assim que se deve ser feito.


Se o indivíduo persistir em responder sempre da mesma forma, produzir da mesma forma, refletir da mesma forma, é inevitável a persistência da alienação.


A ciência busca então entender os fatos, separar o concreto do abstrato, o concreto que está sob o empírico aparente, como entender socialmente o indivíduo como manifestação de uma totalidade. Mas a própria ciência é uma atividade e produção humana, estando carregada em seus processos e resultados dos interesses daquele que a produziu.


Procura-se então encontrar a ideologia, nível de consciência a partir do discurso individual com o pesquisador, sendo vital a relação entre pesquisador – pesquisado, colaborando para o estudo. O pesquisador é objeto de estudo de si e do outro.


Faz-se necessário não apenas estudar a ideologia individual mas também a relação entre o grupo, desde aqueles que simplesmente reproduzem cristalizadamente os papéis e a ideologia deste grupo até as atitudes questionadoras. Confrontar o discurso e a ação. Intervir e acumular conhecimentos na pesquisa, uma observação não apenas passiva, mas participante.


Ter senso crítico e não apenas aceitar ou cristalizar papéis e idéias é essencial para o indivíduo que não deseja ser simplesmente manipulado ou ser e permanecer alienado. Mas o homem consciente tem leitura ideológica, crítica sobre o que está a sua volta, que se move e movimenta a história de seu mundo e de sua sociedade.


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